O azar existe

crônicas

Por que minha cisma com formigas? As formigas são, ao mesmo tempo, os animais mais toscos e mais perigosos da humanidade (mentira, são os mosquitos, mas finja que é verdade). Uma formiga não te faz nada; junte 10 e elas já podem causar um certo estrago; junte 100 e elas podem fazer um baita estrago; junte 1.000 e pode dar adeus à sua despensa. Junte 1.000.000 de formigas e pode dar adeus à sua casa inteira.

Mas não estou aqui para falar da vida das formigas e do estrago que elas podem causar nos seus Trakinas de morango. Hoje, vou falar da morte da pobre formiga que habitava a pia do meu banheiro há alguns dias.

Parei para pensar nas chances que temos de receber um meteoro, ou de algo simplesmente cair na nossa cabeça, levando em conta o tamanho inteiro do planeta e o espaço minúsculo que ocupamos na sua superfície. As chances de você ser atingido mortalmente por um objeto são de 1 em 1.309.920.920.281.821,42.

Para ser atingido, então, tem que ser muito azarado, não concorda?

Pois bem. Eu estava escovando os dentes hoje de manhã quando vi a dona formiga andando na pia, amarradona, feliz da vida, praticamente cantarolando.

No processo de escovação de dentes, obviamente rolam uns respingos de pasta em cima da pia, naquele vai e vem da escova. Em uma dessas, tirei a escova da boca e caiu, sei lá, tipo 1/1000 de 1 ml de pasta de dente (já meio derretida pela água) em cima da pia.

Adivinha onde caiu.

Exatamente em cima da formiga azarada.

A pia é grande, muito grande, e a formiga estava em movimento. Ser atingida por aquilo é algo como estar dirigindo tranquilamente e ser acertado por um meteoro vindo do nada.

Não acreditei na cena e fui ver se a pobre formiga tinha morrido.

Coberto por uma espessa camada de pasta de dente, o pequeno corpo já começava a se decompor sob a ação dos reagentes químicos do “whiteness” da pasta. Uma patinha já tinha ido embora. Peguei uma agulha e cutuquei a formiguinha para ver se ela se mexia. Nada.

Tentei uma mini massagem cardíaca com dois cotonetes. Nada. Ó dia, ó azar.

Dei um enterro digno à formiguinha: peguei o pequenino cadáver entomológico e dei para o meu cachorro comer. Alguém tinha que sair feliz dessa história.

Coitada!